quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Gravidez Na Adolescência: O Acesso À Educação É De Grande Importância Para A Prevenção

Gravidez Na Adolescência: O Acesso À Educação É De Grande Importância Para A Prevenção

No Brasil, a gravidez entre os 15 e os 19 anos aumentou em 26% entre 1970 e 1991, contrariando a tendência geral de diminuição das taxas de fecundidade. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) realizada em 1996 demonstrou que 14% das mulheres nessa faixa etária tinham pelo menos um filho e que as jovens mais pobres apresentavam fecundidade dez vezes maior do que as de melhor nível socioeconômico. Entre 1993 e 1998, observou-se o aumento de 31% no percentual de parto de adolescentes de 10-14 anos atendidos pela rede do SUS. Em 1998, mais de 50 mil foram atendidas em hospitais públicos para curetagem pós-aborto, sendo que quase três mil delas tinham apenas 10 a 14 anos.
Esta realidade, de origem multicausal, revela deficiências na implementação de políticas públicas, exigindo um movimento do Governo e da sociedade para promover a saúde e o desenvolvimento da juventude.
O acesso à educação é de grande importância. A adolescente com maior escolaridade e maiores oportunidades de obtenção de renda é menos propensa à gravidez não-planejada. Em todos os casos, a jovem que engravida tem grande possibilidade de abandonar a escola, sendo difícil a sua reinserção posterior no sistema educacional. Também no caso dos rapazes, assumir as responsabilidades paternas pode significar a interrupção da educação formal.
Para muitos adolescentes, o sexo está ligado à violência, coerção e abuso, muitas vezes cometidos por membros de sua própria família ou adultos que com eles possuem algum tipo de relação privilegiada.
A mortalidade materna pode ser prevenida por meio de uma ação integrada de prevenção da gravidez precoce e pela oferta de assistência de qualidade no pré-natal, no parto e no pós-parto. Oferecer meios para evitar ou postergar a segunda gravidez e as seguintes, contribui também para assegurar o bem-estar do casal adolescente e de sua criança. Orientação, proteção e apoio aos pais jovens, para que sigam uma carreira saudável rumo à idade adulta, é um direito de cidadania que precisa ser assegurado.
A grande maioria dos adolescentes é pouco informada a respeito de sexo e reprodução. Tem dificuldade para dizer não ao sexo indesejado, ou mesmo para negociar a prática do sexo seguro. Ainda assim, muitos parecem acreditar que, negando aos jovens informações sobre sexo e contracepção, estariam evitando o início precoce da vida sexual. O que ocorre, de fato, é que a educação sexual de qualidade dá ao adolescente condições para escolher o momento apropriado para o início da vida sexual segura, saudável e prazerosa.
A qualidade da informação, das mensagens e dos modelos criados e repassados aos jovens pela mídia é de fundamental relevância no processo de formação dos jovens e na orientação das escolhas que farão nesta fase da vida. Hoje, é fácil constatar que os amplamente acessíveis meios de comunicação fomentam enorme demanda por consumo, num cenário em que os jovens são, em sua maioria, marginalizados social e economicamente. A mesma sociedade que autoriza o estímulo desenfreado do consumo não é capaz de oferecer aos seus jovens perspectivas minimamente razoáveis de emprego ou segurança financeira. Frustrados, sem esperança para o futuro, muitos jovens buscam formas de compensação que podem constituir riscos à sua vida.
O excesso de eroticidade, o uso do álcool e do tabaco e os comportamentos de risco exibidos por personagens da mídia, transformam-se em modelos ou ícones, muitas vezes copiados por adolescentes como uma representação de status sócio-econômico, beleza, sucesso e maturidade. Com seu tremendo poder de penetração na mente e na formação de valores do jovem, a mídia poderia ser grande aliada e promotora de desenvolvimento, caso optasse por atuar em bases realmente educativas. Infelizmente, não é o que ocorre na maioria dos casos.
Grande parte dos adolescentes torna-se sexualmente ativos antes dos 20 anos, mas geralmente não tem acesso fácil a serviços de planejamento familiar e aos métodos contraceptivos. Grávida, a jovem chega tarde ao pré-natal, que é muitas vezes precário, sem profissionais sensibilizados e capacitados para lidar com uma clientela que precisa ser acolhida de forma diferenciada.
Os caminhos a percorrer são difíceis. No entanto, é preciso alcançar a meta de tornar fácil e tempestivo o acesso a serviços de saúde que, efetivamente, atendam às necessidades específicas dos jovens. Para muitos deles, o horário de funcionamento, a localização e os preços dos serviços são proibitivos. O medo da exposição de sua vida particular é outra barreira, já que muitas vezes se requer o consentimento dos pais ou responsáveis para a prestação de atendimento à saúde reprodutiva de menores. Não bastasse isso, há ainda o comportamento julgador de alguns profissionais que faz com que muitos jovens deixem de procurar tratamento adequado para problemas de saúde sexual, como as infecções sexualmente transmissíveis.
Referências
ARAÚJO, E.C. de.  Aspectos biopsicossociais na sexualidade dos adolescentes: assistência de enfermagem.  João Pessoa: Universidade Federal da Paraíba, 1996.  159p.  (Dissertação, Mestrado em Enfermagem de Saúde Pública).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a  Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada - manual técnico/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à  Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas ? Brasí­lia: Ministério da Saúde, 2006, 160 p.
GOMES, S. M. T. A. Gravidez na adolescência. Recife: [s. n.], 2000. 6 p.
MOURA, E.R.F.; RODRIGUES, M.S.P. Pré natal healthcare communication and information. Interface ? comunic, saúde, educ, v7, n 13, p. 109 ? 118. 2003.
RECIFE. Secretaria de Saúde. Crianças do Recife: perfil de nascimento 1995?2000.  Recife, 2002. p. 90.
 

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